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Índia Vanuíre (pacificadora)

Atualizado: 13 de mai. de 2023


Ocupação – indígena pacificadora

Data de nascimento (incerta) – segunda metade do século XIX (1801-1899) – Estado de São Paulo (alguns consideram como local de nascimento o Estado do Paraná)

Data de morte – 1918 – Aldeia Icatú – Brauna/SP


Existem dúvidas e controvérsias sobre “Vanuíre”, indígena referência na pacificação na região Oeste do Estado de São Paulo e uma referência para a história de Tupã. Pouco se sabe sobre sua origem. Traremos nesta biografia registros documentais que nos ajudam a entender um pouco desta história. Por ser uma biografia, está aberta a atualizações, sempre que surgirem novos documentos.


Documentos Oficiais

O primeiro relato está documentado na Câmara Municipal de Tupã, no ano de 2019, por meio de uma Moção de Congratulações endereçada à Escola Estadual Índia Vanuíre, por ocasião dos seus 71 anos de fundação. O documento público, de autoria do vereador Charles dos Passos diz o seguinte sobre Vanuíre:


Nossa região era habitada pelos índios Caingangues também chamados Coroados que pertenciam ao Grupo dos Jê ou Tapuia, com os cabelos cortados em torno da cabeça justificando a designação que lhes foi aplicada. Ao contrário de outras tribos, mantinham notável carinho com as esposas e muita dedicação aos filhos e a fidelidade conjugal absoluta.


Nesta mesma data, Monsenhor Claro Monteiro foi morto pelos índios Caingangues, surgindo assim a proposta de Hermann Von Hering de exterminar os índios hostis.Um grupo de índios Caingangue já civilizado do Estado do Paraná em contato com os Caingangues de nossa região serviram como intermediários. A este grupo juntaram-se índios da fazenda de Campos Novos de Paranapanema capturados pelo próprio proprietário da gleba. Entre estes índios estava a índia Vanuíre que desejava salvar da morte e da destruição o que restava de seu povo.


Em um dos encontros entre os índios e os civilizados no alto do caminho que vem do Rio Feio, apresentaram-se dez guerreiros caingangues desarmados para travar relações com os ocupantes do acampamento do Ribeirão dos Patos. A admirável Vanuíre, neste momento, correu ao acampamento, onde foram recebidos pelos brancos com carinhos e presentes, dentre os quais o que mais lhe causou admiração e viva alegria foi o fósforo.


Vanuíre, já avançada da idade, ainda era uma grande cantora e cantava mensagens de paz, cantando na língua de seus antepassados, canções lindas e cheias de tristeza.


Assim se comunicava com seus irmãos rebeldes, e foi com seu canto que surgiu nesta região a compreensão e amizade e foi possível a pacificação. Por falta de documentos históricos não se pode afirmar com exatidão onde e quando Vanuíre nasceu.


Considerada a grande pacificadora dos conflitos entre brancos e os índios Caingangues do oeste paulista. Conta a lenda que, cansada de ver a dizimação de seu povo, Vanuíre costumava subir em um tronco de Jequitibá de dez metros de altura, onde permanecia do nascer do dia ao cair da tarde, entoando canções em favor da paz. Em 19 de março de 1912, Vanuíre vivenciou o resultado de seus esforços alcançando a tão almejada pacificação entre os seus e os brancos invasores, quando com emoção marchou ao encontro destes e disse-lhes que seriam recebidos como irmãos.


Graças a Vanuíre a região foi pacificada dando condições para penetração da Estrada de Ferro Paulista, surgindo assim, inúmeras cidades, dentre elas Tupã, que significa ‘Ser supremo’ que surgiu entre os índios como uma mensagem aos primitivos habitantes da Terra.


Vanuíre faleceu em 1918 na aldeia Kaingang de Icatu, na cidade de Braúna, região de Tupã, estado de São Paulo, onde teria passado seus últimos dias. Seu corpo foi transladado para um mausoléu defronte à escola, onde repousam atualmente seus restos mortais em uma sagrada união com a terra que lhe pertenceu.


Livro Tupã: Depoimentos de uma cidade (2012, p.29-30)

No início de 1912, a grande dificuldade que se apresentava era a de formar grupos só com civis, que não se fixavam por muito tempo, provocando a interrupção dos trabalhos. Para resolver o problema, decidiu-se contratar, no Paraná doze Kaingang já integrados ao novo sistema social, que se comunicavam facilmente com o branco e estes puderam mostrar aos outros índios intenções pacíficas, não só por meio da palavra, mas também de sons, sinais e instrumentos.


Chamava a atenção uma índia de nome Vanuíre, mulher madura, que mal falava o português e cuja função era relatar lendas e tradições da tribo.

Ela dispôs-se a colaborar na "... salvação das últimas relíquias de seu povo". Seu trabalho estendia-se do raiar do dia ao cair da noite, sempre lançando um brado de paz aos seus irmãos.

Presentes foram depositados as margens da floresta durante meses, inutilmente. Um dia começaram a recolher e deixar no lugar cuias de mel e flechas enfeitadas, Vanuíre redobrou então seus chamados de amizade e era quem mais se emocionava.

[...]

"A natural excitação dos primeiros momentos só durou o tempo necessário para a admirável Vanuíre dar-se conta do que se passava; então, correndo com entusiasmo incrível, foi ela resolutamente meter-se no. grupo formado pelos Caingangs induzindo-os a acompanhá-la até ao recinto do acampamento." A expectativa era grande, mas forma como foram recebidos mostrou que estava selada a paz. Vanuíre adiantou-se e reconheceu os parentes de quem fora separada anos antes. Essa primeira manifestação de paz foi seguida por outras, inclusive e com visitas as aldeias de Vauhin e a descoberta de novos cursos d'água aos quais deram os nomes de rios dos Kaingang [...] A desconfiança anterior mudou para a confiança cega e, assim, foram eles desalojados e surpreendidos, não mais pelos bugreiros, mas pelas doenças que dizimaram todo o grupo do Cacique Congue-Hui e dos Chefes lacry. Charim e Dorarim.

[...]

Darcy Ribeiro, em seu livro A Política Indigenista Brasileira, cita que: “...a. primeira pacificação efetuada pelo SPI ocorreu em 1912 (..) na região Noroeste do Estado". O escritor fala também de Índia Vanuíre, que foi aprisionada pelos bugreiros, e que “... contribuiu decisivamente para a pacificação dos indios de toda essa região”.

Museu Índia Vanuíre

Muito se fala sobre a lenda de Vanuíre, sobre como ela subia em um jequitibá de dez metros de altura, no qual permanecia do nascer do dia ao cair da tarde entoando cânticos de paz. No entanto, poucas são as informações sobre a vida dela.


Inicialmente repercutiu a notícia de que Vanuíre teria vindo do estado do Paraná, trazida no início do século XX pelo Serviço de Proteção aos Índios – SPI. Isso pode ter ocorrido, talvez, por alguma interpretação errônea feita do livro A Pacificação dos Caingangs Paulistas, de Luiz Bueno Horta Barbosa, no trecho:


No plano estabelecido, o Coronel Rondon aproveitava com admiravel habilidade a circumstancia de se poder contar com os serviços de alguns Caingangs, tirados do grupo já civilizado do Estado do Paraná, por meio dos quaes podiam os communicar aos selvicolas as nossas intenções pacificas, não só por meio da palavra, como tambem por certos signaes peculiares a essa nação, feitos com o auxilio de businas e de uma especie de hieróglifos, muitíssimo originaes, construídos com páozinhos e pequenos ramos de arvore.
Esses elementos, que deviam representar na campanha que se ia iniciar uma acção decisiva, foram logo depois acrescidos dos indios escravos de uma fazenda de Campos Novos do Paranapanema, cujo proprietario, famoso bugreiro, os havia aprisionado por occasião de devastadores assaltos que costumava dar ás aldeias do rio do Peixe.
Entre eles vinha a velha india Vanuire, que entre todos se destacou depois pelo inexcedivel zelo e verdadeiro amor com que se devotou áquellaobhra, que ella compreendia ser a de salvação das ultimas reliquias de seu povo. (HORTA BARBOSA, 1918, p. 15-16)

Não é certa a origem da informação de que ela teria vindo do estado do Paraná, mas para sanar essa dúvida, o Centro de Referência Kaingang e dos Povos Indígenas do Oeste Paulista levantou dados que corroboram com esse dado de que Vanuíre estava, na verdade, no estado de São Paulo quando o SPI teve contato com ela.


Uma das fontes integra o acervo arquivístico do Museu Índia Vanuíre: um microfilme que contêm alguns relatórios do SPI e que foram digitalizados pelo equipamento em 2018. Nele foi localizado o relatório Exposição do histórico da aquisição das Térras do P.I. Vanuíre e GRILO das mesmas ultimamente verificado.


O relatório, escrito em 1940 por Nicolau Bueno Horta Barbosa, deixa claro que Vanuíre estava aprisionada em Campos Novos do Paranapanema (SP), antes da fundação do serviço de proteção, além de disponibilizar outras informações pertinentes, como a existência de um filho de Vanuíre que se encontrava com ela naquele momento.


Em uma visita ao site do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, endereço: https://museuindiavanuire.org.br/vanuire-pesquisa-sobre-sua-origem/ é possível conhecer mais sobre Índia Vanuíre e conferir fotos como esta ao lado, da pacificadora junto à militares, indígenas e os chamados "grileiros".





SITES PESQUISADOS:

Museu Índia Vanuíre: https://museuindiavanuire.org.br/

Câmara Municipal de Tupã: http://www.camaratupa.sp.gov.br


FONTES:

- Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre

- Tupã: Depoimentos de uma cidade. Arlindo Vizelli Montes; Elizabeth Manrique Moreno; Iara Bianchi Nakayama. ISBN: 978-85-904606-2-6. 2012 (2ª ed.), 605 páginas.

- Facebook: alunos, ex-alunos e amigos da Escola Índia Vanuíre

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