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Altino Martinez (professor)


Ocupação – professor, escritor/crítico literário, autor teatral

Data de Nascimento – 11/05/1913 – São Paulo/SP

Data de Morte – 07/08/1989 (aos 76 anos) em Tupã


Família e Formação

Altino Rodrigues da Costa Martinez nasceu na cidade de São Paulo, no dia 11 de maio de 1913. Filho de Teodoro Martinez e Luiza Rodrigues da Costa Martinez.


Formou-se professor no ano de 1933, com apenas 20 anos, pela Escola Normal da Praça da República, dedicada a formação de professores para os ensinos primário e secundário.


De 1935 até 1953, trabalhou também como funcionário administrativo na empresa The São Paulo Railway Company, Limited, a primeira ferrovia do estado de São Paulo.


Casou-se em 1937, aos 24 anos, com Ângela Veraldi Martinez. Tiveram cinco filhos: Dalva Veraldi Martinez Ribeiro Santos, Antonio Martinez, Teodoro Martinez Neto, Suelly Martinez Ignatius e Angela Veraldi Martinez Marin.


Em 1938 passou também a dar aulas para o ensino secundário em escolas particulares da capital paulista, lecionando a disciplina de Língua Portuguesa.


Em 1953, por meio de concurso público ingressou no Magistério, deixando o emprego na companhia ferroviária após 18 anos, para se dedicar integralmente ao ensino.




Vida em Tupã


Dois anos depois, em 1955, Altino Martinez transferiu-se para Tupã, uma jovem cidade de apenas 26 anos de fundação. Veio com a família e deu início a construção de uma das mais conceituadas carreiras não apenas na docência, mas também nas artes, no teatro e literatura.


O professor Altino, como ficou conhecido, foi o autor da letra do Hino á Tupã, que posteriormente recebeu melodia de Nelson e Sua Orquestra Tupã.


O Hino à Tupã foi oficializado por meio da Lei Municipal 1393, de 27 de junho de 1967, sancionada pelo prefeito a época, Oscar Elias Bueno.



"Terra do índio bravio - Onde é o céu sempre anil
Que não esquece o bravo gentio - E marcha em progresso impávido febril
Teu solo abriga a riqueza - Cidade de enlevos mil
És bem exemplo dessa pujança e grandeza - Das terras do meu Brasil"...(Trecho do Hino - Altino Martinez - 1967)

Altino Martinez ministrou cursos de teatro por meio da Secretaria de Cultura do Estado; criou o Teatro de Bonecos de Tupã, produzindo e dirigindo inúmeros espetáculos.


Escreveu por quase trinta anos suas crônicas, artigos e críticas literárias em jornais de Tupã e Região.


Era especialista em literatura luso-brasileira, analisando obras de autores como Guimarães Rosa, Camões, Gil Vicente, entre outros. Ministrava cursos e palestras sobre o tema em escolas e faculdades de todo Estado.


Obras publicadas

Infantil e Teatro: O Fabricante de Monstros (teatro) peça de caráter experimental; O Pinheirinho Teimoso (teatro infantil); O Saci e os Três Fantasminhas (teatro infantil); A Escola (teatro infantil); produziu inúmeras peças para o Teatro de Bonecos; A Carta de Pero Vaz de Caminha, sobre o descobrimento do Brasil (teatro-comédia);

Romance e Poesia: Poemas do Povo (poesias) - libreto; Seara de Pedras (poesias) - em coautoria; Leitura Teatralizada; Foi Assim... (memórias); O Marido. A Mulher e o Outro (o Viúvo) - romance; Crônicas Tupãenses; Semente a Esmo (poesias) - todo ilustrado;

Crítica Literária e Linguística: Regras Práticas para Acentuação Gráfica (várias edições) - libreto; Novas Práticas Didáticas para o Ensino da Língua Pátria; O Velho da Horta - de Gil Vicente - em linguagem atualizada e adaptado inclusive para o Teatro de Bonecos; Os Lusíadas para os Jovens - 1ª edição; Os Lusíadas para os Jovens - 2ª edição; Falando de Literatura, de Livros e de Autores; A Carta de Pero Vaz de Caminha - Porque terá sido escrita - 2ª versão.


Reconhecimento

Como crítico de literatura foi convidado e tomou parte ativamente no II Congresso Brasileiro de Críticas e História Literária, realizado em 1.961 do qual participaram também críticos estrangeiros, notadamente de Portugal e da Itália.


Seu livro Os Lusíadas para Jovens foi adotado como livro de classe em vários estabelecimentos de ensino, inclusive no Colégio Mackenzie e no Instituto de Educação Caetano de Campos de São Paulo.


O estudioso da obra de Camões, Reis Brasil, autor de vários livros sobre Camões escreveu de Portugal ao "Professor Altino", dizendo-lhe que seu livro Os Lusíadas para os Jovens, em matéria de divulgação da epopeia camoniana era " do melhor que se publicou em qualquer tempo e em qualquer lugar".


Teve a sua peça O Fabricante de Monstros representada inclusive em Festival de Teatro Amador promovido pelo Governo do Estado.


Obteve o 1º prêmio como autor de cenário da peça a Bruxinha Que Era Boa representada em Festival de Teatro Amador realizado pelo Governo do Estado, em Presidente Prudente.

Foi membro da União Brasileira de Escritores.


Seu livro "Crônicas Tupãenses", foi distribuído pelo Rotary Club de Tupã aos demais Rotarys do Brasil.


No dia 30 de abril de 1985, em cerimônia realizada na Câmara Municipal de Tupã, o professor Altino Martinez recebeu o título de Cidadão Tupaense.


Prisão e livro

“Fui muito perseguido pela Revolução. Mais precisamente pelos que dela tornaram-se donos em nossa cidade e sob seu escudo agiram. Dando vasão a sentimentos de vingança puramente pessoais. Sofri muito com isso. Cheguei mais de uma vez ao ponto de desespero. E sofreu, terrivelmente, minha família (Altino Martinez - Prefácio do livro Minha prisão e o que nela eu vi e ouvi)

Mas, mesmo com todo reconhecimento, o professor Altino Martinez acabou vivendo aqui em Tupã, ao lado da família, um dos momentos mais tristes e dolorosos de sua vida. Era um domingo, primeiro de novembro de 1970, quando foi acordado, antes das seis da manhã por soldados do batalhão do Exército de Lins, que o levaram preso, sem a mínima justificativa.


O Brasil vivia a ditadura militar e uma das práticas era prender intelectuais, artistas, professores, qualquer pessoa considerada formadora de opinião que não fosse alinhada com o pensamento dos militares.


O trauma e os momentos difíceis que viveu desde o momento da prisão, até voltar ao convívio familiar, ao invés de abater, fortaleceram o professor Altino, que encontrou uma maneira de registrar cada um dos oito dias em que passou preso, transformando estas tristes e dolorosas memórias em um livro, “Minha prisão e o que nela eu vi e ouvi”, onde relata detalhadamente tudo que presenciou e viveu, da noite anterior a prisão, ao reencontro familiar, após sua soltura.


DIA 1ª DE NOVEMBRO DE 1970 - DOMINGO
Desperto sobressaltado com pancadas violentas na porta. Levanto-me rapidamente. Rapidamente enfio os pés nas sandálias, sem apertá-las e encaminho-me para a sala. Na passagem apanho uma camisa, pendurada as costas de uma cadeira na copa e visto-a [...] As pancadas se repetem mais violentas [...] O relógio sobre a divisão da cozinha marca cinco e cinquenta e cinco [...] Ponho a cabeça para fora e dou com um soldado e cinco passos de distância [...] Faz-me sinal para que dele me aproxime e eu avanço. "o coração nas mãos". -O Dr. Guido quer falar com o Sr. e pede pro Sr. ir já até a delegacia [...] Chego a delegacia. Ambiente agitado. Distingo entre os que ali se achavam o Dr. Modelli, o Tenente Thomazine, o escrivão de polícia Simão. Alguns Sargentos e soldados não me são estranhos. O Dr. ModeÏli, no seu feitio ríspido, seco, diz-me que estou preso e que vou ser removido para a cidade de Lins [...] peço porém que me deixem ir até minha casa vestir-me. Não. O Sr. não pode sair mais, diz-me um Oficial da Polícia Militar, que não conheço. (Depois soube ratar-se do Tenente Juraci, que vai comandar o destacamento que será sediado na cidade).
- E os Srs. vão me remover assim, de pijama?!
- É a ordem:
Espanto-me. Jamais pensei que, elemento antigo a cidade, conhecido, homenageado até em Praça Pública (e depois de 1964) [...] pudesse um dia ser alvo de tal desconsideração. E mesmo que nada disso tivesse importância haveria ainda que respeitar pelo menos a dignidade humana. E, no entanto, via-me tratado como um facínora vulgar, como um bandido perigoso e temido (trechos do 1º capítulo do livro – Minha prisão e o que nela eu vi e ouvi – Altino Martinez)

Morte

Altino Martinez faleceu as 7 horas da manhã do dia 7 de agosto de 1989, no Hospital São Francisco de Assis de Tupã, de parada cardíaca. Estava com 76 anos.


Ele havia passado por duas cirurgias no intestino dias antes, mas como também sofria do coração, não suportou o tratamento. Seu corpo foi velado no Museu Índia Vanuíre e enterrado no Cemitério São Pedro.


Homenagens

Dois anos após sua morte, Altino Martinez foi homenageado com seu nome em uma escola de Tupã, a Escola Estadual Patrimônio Universo, que passou a ser denominada de “Escola Estadual Professor Altino Martinez”, no distrito de Universo.


A homenagem veio por meio de um decreto estadual (Lei 7.439, de 16 de julho de 1991), aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado e promulgada pelo então governador, Luiz Antônio Fleury Filho.

Professor Altino também foi homenageado pelo município, com seu nome na Casa de Cultura Altino Martinez, que durante anos funcionou em um prédio ao lado do Correio, defronte o Paço Municipal.


O local foi desativado pela prefeitura e no ano de 1996 o prefeito a época, Jesus Guimarães transferiu a Casa de Cultura Professor Altino Martinez para outra localidade, passando a funcionar por um período no antigo Cine Cazuza (Rua Nhambiquaras, 260). O convênio foi encerrado anos depois e hoje não existe mais um espaço dedicado as artes e a cultura que leve o nome do professor Altino Martinez.


SITES PESQUISADOS:

Prefeitura Municipal de Tupã: https://www.tupa.sp.gov.br

Câmara Municipal de Tupã: http://www.camaratupa.sp.gov.br

EMEIEF - Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental: https://www.escol.as/216490-altino-martinez-prof


FONTES:

- Diego Henrique Almeida Pantaleão: professor, Social Mídia TV Câmara de Tupã

-Tupã: Depoimentos de uma cidade. Arlindo Vizelli Montes; Elizabeth Manrique Moreno; Iara Bianchi Nakayama. ISBN: 978-85-904606-2-6. 2012 (2ª ed.), 605 páginas.

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